Insane chronicles

O porto de abrigo de pensamentos aleatórios e desprovidos de sentido que não têm mais nenhum local para onde ir.

Chapéu de chuva da Prada, alguém?  

Hoje no comboio assisti a uma das conversas mais fúteis e desprovidas de conteúdo de que tenho memória, portanto resolvi elaborar um comentário com um semblante vagamente crónico sobre ela para por neste blog. Achei que ficaria a condizer lindamente.
 
A ilustre oradora discutia acerrimamente com a sua amiga a dificuldade em encontrar casacos de inverno verdadeiramente quentes/impermeáveis e "fashion" (citando a ilustre oradora) e se seria ou não preferível passar frio ou ficar molhado no processo de vestir bem e bonito em vez de vestir qualquer coisa quente e confortável mas extremamente ofensiva à vista. Os exemplos utilizados foram o chapéu-de-chuva e o anorak, que aparentemente estão “completamente fora de moda” (voltando a citar a mui eloquente oradora).
 
Apesar de ser um completo nabo no que toca a moda ou coisa que o valha, a conversa pareceu-me ter um fundo de razão. Todas as peças de roupa já tiveram na moda, menos o anorak. Os cachecóis já estiveram na moda, os gorros já estiveram na moda, os casacos de ganga e de malha já estiveram na moda e até houve uma altura onde os ponchos eram o último grito, mas os anoraks nunca estiveram na ribalta. Que conclusão tirar? Provavelmente a moda nunca se preocupou muito em manter as pessoas que a seguem quentes e secas ao mesmo tempo. É compreensível: as passerelles parisienses e milanesas certamente têm ares condicionados capazes de gerar frio, mas não têm infiltrações e fugas de água como a maioria dos edifícios portugueses. Se chovesse dentro do atelier de Giorgio Armani como cá já vi chover em casas, estações, centros comerciais e hospitais, este certamente estaria mais preocupado em fazer roupa impermeável e quente. Isso é que era: ver os grandes estilistas a trabalhar com oleados e galochas!

Até os chapéus-de-chuva tiveram em tempos idos o seu período de glória... que corresponde ao tempo dos nossos avós. Que jovem usa um chapéu-de-chuva? Não creio que seja só por uma questão de moda – é também porque tal acessório não é prático. O anorak, mesmo que não proteja da chuva, também protege do frio. O chapéu-de-chuva não tem utilidade nenhuma se não chover. O homem debate-se com outro problema ainda: um homem molhado é másculo e transude sensualidade, enquanto um homem de chapéu-de-chuva é um mariquinhas que não é capaz de andar à chuva. Portanto além de ser “fora de moda” e pouco prático, ainda nos estraga o engate. Pessoalmente recuso-me a utilizar chapéu-de-chuva, não por nenhuma das razões acima mencionadas, mas sim por razões ecológicas: sempre que saio de casa com um chapéu-de-chuva não chove e não quero ser mais responsável pela desertificação da península ibérica que qualquer outro poluidor, não-reciclador e adepto de ar condicionado/aerossóis.

Pergunto-me, contudo, se a triste realidade dos anoraks e chapéus-de-chuva seria diferente se estes artigos fossem lançados ao mercado pelas grandes marcas de roupa. Um anorak com padrão leopardo por fora e forro em pelo de foca bebé da Gucci? Um chapéu-de-chuva com lantejoulas e punho revestido em pele de crocodilo da Prada? E umas galochas douradas e castanhas fabricadas à mão pela Louis Vuitton? Talvez esse fosse um mundo onde as seguidoras da moda não tivessem de enfrentar a difícil escolha entre um sobretudo foleiro e uma pneumonia…

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PS: Por favor, não me entendam mal. Eu sou um grande apoiante da moda nua e crua. Especialmente da nua, quando passa no Fashion TV. Ou da crua, quando tenho fome e apanho a tele-culinária…


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